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sábado, 4 de abril de 2009

HANNAH SZENES


Hannah Szenes nasceu em Budapeste, na Hungria, no seio de uma abastada família de intelectuais judeus. O seu pai, Bela Szenes, escritor e jornalista de sucesso, morreu quando ela e Giora - o seu único irmão, um ano mais velho - eram ainda muito jovens. Hannah tinha apenas seis anos e a sua mãe, Katherine, teve que criá-los sozinha.

Durante a infância, Hannah teve pouco contacto com o judaísmo, pois os seus pais, assim como muitos judeus húngaros, haviam-se assimilado totalmente ao meio circundante.
Hannah era uma criança especial. Desde pequena demonstrava a força de carácter que moldou a sua vida, sempre dizendo que queria “fazer uma diferença, no mundo”. Brilhante desde a infância, logo demonstrou um notável talento literário especialmente para a poesia, primeiro em húngaro e, posteriormente – após se tornar uma ardente sionista – em hebraico. Com 13 anos iniciou um diário no qual registou os seus pensamentos e os acontecimentos que marcaram a sua curta vida. É através das suas palavras no diário e das suas poesias que Hannah se revela. A sua vida em Budapeste Hannah e o seu irmão receberam uma excelente educação, frequentando as melhores escolas de Budapeste. Até completar dez anos, a menina, excelente aluna, estudou numa escola pública de Budapeste, até conseguir ser aceite numa escola particular protestante, só para meninas. A escola havia recentemente aberto as suas portas a católicos e judeus, desde que pagassem uma mensalidade maior. No caso de uma jovem católica, a escola cobrava o dobro da mensalidade “normal” e, quando se tratava de uma judia, o triplo. Apesar do crescente anti-semitismo na Budapeste da década de 30, a mãe de Hannah nunca pôs de parte a hipótese de colocar os filhos numa escola judaica.

Foi nesta escola protestante que Hannah começou a conhecer e amar o judaísmo. Um dos seus professores era o rabino-chefe de Budapeste, Imre Benoschofky. Grande estudioso e ardente sionista, o rabino Benoschofky teve uma profunda influência sobre o nascente interesse da jovem pelo judaísmo e sionismo, por tudo que dizia a respeito do seu povo. Foi também nesta escola que Hannah teve os seus primeiros contactos com o anti-semitismo e com a discriminação imposta aos judeus.

A década de 1930 foi difícil para os judeus da Europa, um prelúdio do terrível pesadelo que iria abater-se sobre a população judaica da região. Após a Primeira Guerra Mundial, um crescente sentimento anti-semita começava a tomar conta da Hungria. Assim como em outras partes da Europa, os judeus eram vistos como os “grandes responsáveis“ por todos os males do país. O crescente anti-semitismo oficial resultara na promulgação de uma dura legislação anti-judaica .
Na época, Hannah era uma jovem bonita, talentosa e decidida. Ao completar 17 anos foi eleita presidente da sociedade literária da escola, mas não assumiu o posto, pois foi informada de que jamais uma judia poderia assumir a presidência de tal – ou de qualquer outra – sociedade. Na ocasião, a jovem escreveu em seu diário: “Você precisa ser alguém excepcional para lutar contra o anti-semitismo... Só hoje comecei a realmente entender o que significa ser judeu numa sociedade cristã. Mas eu não me importo. É porque temos sempre que lutar muito por tudo que queremos; é porque é sempre mais difícil para nós, judeus, atingirmos os nossos objectivos que acabamos desenvolvendo qualidades excepcionais... Se eu fosse cristã, todas as profissões estariam abertas para mim”.
Hannah sabia que se tornar cristã, como lhe havia sido sugerido e como outros haviam feito, não era uma opção para ela. Ao invés de se converter, abandonou a sociedade literária, cortando todos os vínculos que tinha com a entidade. Na mesma época tornou-se membro de um grupo sionista jovem e muito activo, os Macabim. No final de Outubro de 1938, escreveu no seu diário: “Tornei-me sionista e esta palavra tem para mim inúmeros significados. Agora sinto de uma forma consciente e profunda que sou judia e muito orgulhosa de o ser. Minha meta é ir para Eretz Israel e tudo farei para consegui-lo”.
Em Março de 1939 Hannah formou-se. Era uma das melhores alunas da classe e os seus professores tentaram fazê-la desistir da ideia de deixar a Hungria e ir para Eretz Israel, pois acreditavam que ela devia tornar-se cristã e, comas suas notas,poderia ingressar na universidade e ter “um futuro promissor”. Mas a jovem estava mais do que decidida. Assim que recebeu a resposta de sua admissão numa escola agrícola em Nahala, embarcou rumo ao seu sonho – a Terra de Israel. Era Setembro de 1939 e a Alemanha já iniciara a sua campanha mortífera contra a Europa e os judeus.




Sonho realizado

Ao chegar em Eretz Israel, Hannah escreveu a sua primeira carta para a mãe revelando a sua felicidade por lá estar: “Estou em casa. Aqui é para onde me trouxe a minha ambição de vida – poderia dizer minha vocação, porque sinto que, por estar aqui, estou cumprindo uma missão, não apenas vegetando; aqui cada vida é o cumprimento de uma missão.” Para completar a sua alegria, o seu irmão Giora juntou-se a ela poucos meses depois.
Em 1941 Hannah integrou-se ao Kibutz Sdot Yam, perto de Cesáreia, e alistou-se na Haganá. No ano seguinte, entrou para o Palmach, braço armado da Haganá. Enquanto estava em Sdot Yam, Hannah escreveu várias poesias e uma peça sobre a vida no kibutz. Mas as terríveis notícias sobre a situação dos judeus na Europa a deixavam angustiada e preocupada. Assim como todos em Eretz Israel, ela sentia que devia fazer algo para ajudar os judeus europeus. Estava também preocupada com a sua mãe, que ainda vivia em Budapeste. Hannah queria de alguma forma voltar para a Hungria para salvar a mãe e ajudar a organizar a saída de judeus – especialmente os jovens – do país e da Europa. Em 1943, um milhão e duzentos e cinquenta mil judeus ainda estavam vivos na Hungria, Eslováquia, Roménia e Bulgária.
Em 1943, Hannah alistou-se no exército britânico para poder participar da luta contra os nazistas, voluntariando-se para uma operação de salvamento. O projecto originara nas pesadas perdas sofridas por bombardeiros aliados durante os ataques. Os britânicos estavam convencidos de que havia necessidade de mais informações sobre as defesas alemãs. Diante disso, a liderança da Haganá fez uma proposta à Grã Bretanha: judeus com ligações nessas regiões poderiam ser lançados de pára-quedas, sobre a Europa, para exercer a dupla função de agentes secretos, ajudando os Aliados na Europa, e, ao mesmo tempo, tentar organizar alguma forma de resistência nas comunidades judaicas.
Depois de muita hesitação, os britânicos aprovaram o plano e 32 judeus palestinos – 30 homens e 2 mulheres – foram aceites para a missão. Hannah estava entre os primeiros a se alistar. Os britânicos levaram os jovens para o Cairo, no Egipto, onde foram treinados. Todos que haviam se voluntariado para a missão eram nativos das regiões para as quais seriam eventualmente enviados, falavam as línguas fluentemente e ainda tinham parentes nesses países. Ninguém punha em dúvida a coragem e a bravura dos jovens; todos sabiam que a missão era muito perigosa e que poucos retornariam com vida. Hannah incentivava os seus companheiros, dizendo: “Somos os únicos a poder ajudar, não temos o direito de pensar na nossa própria segurança; não temos o direito de hesitar, de ter medo... é melhor morrer com a consciência do dever cumprido do que voltar sabendo nem haver tentado”.

A missão

Em Março de 1944, uma semana antes de que os alemães ocupassem a Hungria, Hannah e mais quatro pára-quedistas foram lançados por aviões aliados sobre a Eslovénia, rumo a Budapeste. Esperavam conseguir, com a ajuda dos partisans de Tito, atravessar a fronteira da Hungria. Hannah ficou três meses com este grupo para que a ajudassem a chegar até a Hungria. Foi nesta época que ela escreveu um de seus mais famosos poemas – “Abençoado o fósforo”.

No dia 7 de Junho de 1944, no período da mais intensa deportação de judeus húngaros pelos nazistas, Hannah cruzou a fronteira da Hungria. Atravessou com dois companheiros e alguns guias mais de 450 quilómetros de território controlado pelas tropas alemãs. As ordens britânicas eram precisas: primeiro deveriam ser socorridos os pára-quedistas britânicos em mãos dos nazistas. Só depois de completar esta missão os jovens poderiam ajudar os judeus locais.

Mas toda a missão chegou bruscamente ao fim poucos dias após a sua chegada. Traída por um informante – um dos partidários de Tito que fazia parte do grupo – Hannah foi capturada pela polícia húngara. No momento em que foi detida, estava de posse de um rádio transmissor.

Presa, foi levada para uma prisão em Budapeste. A Gestapo e o serviço de contra-espionagem húngaro interrogaram-na e a torturaram brutalmente durante vários meses. Queriam que ela revelasse detalhes da sua missão e o código britânico de rádio. Mas Hannah não revelou qualquer informação. Na tentativa de fazê-la falar, a polícia prendeu no dia 17 de Junho a sua mãe, Katherine Szenes, que ainda vivia em Budapeste, acreditando que os seus filhos estivessem a salvo em Eretz Israel. Ameaçaram a jovem de torturar a sua mãe na sua frente e depois matá-la. Mesmo assim, Hannah não cedeu e não revelou o código. No primeiro dos poucos encontros que teve com a mãe, apesar de ferida pelas torturas e espancamentos, pediu que a mãe compreendesse por que tinha que ficar calada – não poderia trair o seu povo. “Mãe, perdoa-me” disse, chorando, a jovem à mãe que a olhava sem acreditar no que via: a sua filha, naquela prisão, presa e ferida, e não a salvo em Eretz Israel. No fundo do seu coração Katherine sabia que – apesar de Hannah negar o facto – a sua filha voltara à Hungria por sua causa, para tentar salvá-la. Enquanto na prisão, vários dos detidos contaram para Katherine quão gentil e bondosa era a jovem; contaram que antes da sua chegada, haviam perdido toda e qualquer esperança, mas que ela era uma como uma luz na escuridão, que transmitia a todos a força para continuar a lutar e a ter fé. Ela cantava, ensinava músicas, danças, o hebraico. Contava sobre Eretz Israel, a história da sua Terra, a esperança no futuro, a esperança do dia da vitória do povo de Israel. Um deles escreveu: “A sua atitude frente à Gestapo e às SS foi memorável. Ela sempre parava à sua frente, alertando-os sobre o destino que teriam após a sua derrota. Curiosamente, aqueles animais selvagens, dos quais qualquer traço de humanidade parecia ter desaparecido, sentiam-se envergonhados na presença dessa jovem refinada e corajosa”.

Convencidos de que a jovem não falaria e sentindo que os alemães estavam prestes a serem derrotados, a policia húngara acabou libertando Katherine Szenes em Yom Kipur.

O julgamento

Depois de cinco meses na prisão, no dia 28 Outubro de 1941, Hannah foi levada a um suposto julgamento, acusada de “traição” contra a Hungria. O “julgamento” ocorreu apesar de ser evidente desde Setembro que a Alemanha estava perdendo a guerra, e que a Hungria queria libertar-se do jugo nazista.

Durante o “processo” ela defendeu com firmeza as suas ações e os seus ideais. Recusou-se a pedir clemência. Corajosa até ao fim, foi executada por um pelotão de fuzilamento no dia 7 de Novembro. Na hora da execução não quis colocar a venda sobre os olhos, queria encarar o seu destino e os seus carrascos. Prisioneiros que testemunharam a sua execução ficaram emocionados com tanta coragem. As suas últimas palavras para os companheiros foram: “Continuem no caminho, não se deixem deter. Continuem a luta até ao fim, até que a liberdade chegue, o dia da vitória para o nosso povo”. Hannah tinha somente 23 anos.



Poucos dias depois os russos tomaram Budapeste, prendendo ou matando todos os nazistas ou aqueles que os haviam apoiado. A sua mãe conseguiu sair de Budapeste e foi juntar-se ao filho Giora, em Israel.

Hannah tornara-se um símbolo de heroísmo e dedicação. A sua coragem pessoal foram fonte de inspiração e estímulo para os judeus da Europa, mesmo que ela e os seus companheiros não tivessem tido sucesso nas suas missões. A sua imagem jovem e radiante, usando o uniforme militar, podia ser vista nas casas de cada cidade e vilarejo de Eretz Israel.

Em 1950, os restos mortais de Hannah foram levados para Israel e novamente enterrados, com honras militares, no cemitério militar localizado no Monte Herzl.
Um vilarejo foi nomeado Yad Hannah em sua homenagem. O seu diário e os seus trabalhos literários foram publicados em hebraico, em 1945, sendo posteriormente traduzidos para vários idiomas, inclusive o húngaro.
Ela foi também tema de inúmeros trabalhos artísticos, entre os quais uma peça teatral de autoria do escritor israelita Aharon Megged e um filme. Vários poemas de autoria de Hannah, entre os quais “A caminho de Cesaréia” e “Abençoado o fósforo” foram musicados.

Eli,Eli

Meu Deus, meu Deus, que não acabem nunca
a areia e o mar,
o murmurar das águas,
os relâmpagos dos céus,
as orações dos homens.

אלי, אלי, שלא יגמר לעולם
החול והים
רישרוש של המים
ברק השמים
תפילת האדם

(Hannah Szenes)


A mi madre

¿Dónde aprendiste a borrar las lágrimas?
¿A soportar el dolor en secreto?
Ocultar en tu corazón la queja,
el sufrimiento, el llanto, el tormento...
¡Escucha el viento!
Desgañitado
brama en la garganta, en las montañas.
Mira el mar...
con ira destructora azota los dones de las rocas.

Toda la naturaleza se agita, tiembla.
¿De dónde viene este silencio en tu corazón?
¿Dónde conociste la fortaleza?

Hannah Szenes

Bibliografia:
Sachar, Abraham, The Redeption of the Unwanted
Slater, Elinor and Robert, Great Jewish Women
Entrevista de Katherine Szenes a David Alster Yardeni, em 7 de maio de 1987, na internet.

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